quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Vídeo: “Misquoting Jesus” (Citando Jesus incorretamente)


Palestra do historiador Bart D. Ehrman.


Os manuscritos originais dos livros que deram origem à bíblia não existem mais. Isso não é exclusivo dos livros da bíblia, qualquer livro antigo possui este problema. Os manuscritos mais antigos dos evangelhos datam de séculos depois das versões originais destes. Como não havia imprensa, as cópias eram feitas à mão e sujeitas a muitos erros: dos milhares de manuscritos encontrados que estão na língua original, historiadores estimam que o número de diferenças entre eles pode chegar às centenas de milhares.

Alguns erros são acidentais enquanto outros são aparentemente intencionais – embora haja divergência de opinião em alguns casos. Foram dados alguns exemplos que eu consultei na minha bíblia (“A Bíblia de Jerusalém”) para conferir. Algumas das alterações suspeitas:

  • A história da mulher adúltera (Jo 8, 1-11) não existia no evangelho de João até o século X! E não encontra-se em nenhum dos outros evangelhos! Novamente, a nota de rodapé confirmou que esta história foi uma adição posterior, embora não confirme que esta adição se deu mil anos depois da história original. Entretanto, a minha bíblia afirma descaradamente que “seu valor histórico não sofre contestação”. Dá pra acreditar nessa palhaçada?
  • Nas versões mais antigas, no final do Evangelho de Marcos, Jesus não aparece após ressuscitado. No final deste evangelho, duas mulheres (das quais nenhuma das duas era a mãe de Jesus, diga-se de passagem) avistaram um homem no túmulo onde Jesus não estava que afirmou que Jesus havia ressurgido dos mortos e mandou que elas contassem as discípulos. Elas, então, saíram apressadamente e não contaram a ninguém, pois tinham medo, e a história acaba. A nota de rodapé que eu encontrei na bíblia confirma essa informação.
  • Durante a paixão, no evangelho de Marcos, Jesus fica em silêncio durante todo o caminho para apenas dizer ao final “Meu Deus, por que me abandonaste?”. No evangelho de Lucas, ele conversa com as mulheres que choram por ele, tem uma conversa inteligente com o ladrão sendo crucificado ao lado e, ao morrer, diz “Deus, em suas mãos eu entrego meu espírito”. Assim, no evangelho de Lucas, Jesus sabe exatamente o que está acontecendo e o que vai acontecer depois, como se ele estivesse no controle, enquanto que no de Marcos, pelo contrário, ele aparenta morrer inconformado com seu fim.
  • Alterações menores foram feitas para sustentar a visão dos escribas que copiavam os evangelhos. Uma delas é a remoção em alguns manuscritos da famosa fala de Jesus “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem” pois alguns sustentavam a ideia de que Deus não teria perdoado aos judeus por terem-lhe entregado à morte. Outra é a adição de partes onde Jesus dizia que as mulheres não podiam falar nas igrejas.
  • A declaração de que Deus Pai, o Verbo e o Espírito são um só Deus encontra-se apenas na Primeira Epístola de João (I Jo 5, 7-8). Ela não se encontra nas versões em grego originais da carta, mas apenas nas versões em latim. Informação confirmada no rodapé da minha bíblia. De acordo com Ehrman, na primeira impressão da primeira versão da bíblia (em 1516) não constavam estes versos e, de acordo com a história contada, eles produziram um manuscrito em grego contendo estes versos para que concordassem em colocá-los na segunda edição da bíblia.

O Evangelho de Marcos é, dos quatro, o mais antigo e nele foram baseados os dois evangelhos que foram escritos em sequência, o de Mateus e de Lucas. O fato de a versão original do final deste evangelho ter se perdido – ou de nunca ter existido para inicio de conversa – coloca, para mim, um grande ponto de interrogação. Será que na história original Jesus realmente ressuscitava? Será que ele aparecia aos discípulos? Ou será que ao final da história Jesus havia simplesmente desaparecido?

Uma sugestão dada pelo historiador: ao invés de ler os evangelhos um de cada vez, leia-os em paralelo e anote as diferenças. Elas serão muitas. Onde e como Jesus nasceu, ou como ele morreu, quem estava assistindo, a que horas foram os julgamentos antes da crucificação, como estava o tempo, quem foi visitá-lo na tumba, quem o viu depois de ressuscitado... Tudo isso muda de acordo com o evangelho em consideração.

Uma consideração final dada por ele é que isso que ele está afirmando e escreveu num livro é conhecido por estudiosos há tempos, não há nada de novo, nada de controverso. O problema é que as pessoas não conhecem estes detalhes e isso é o que o motivou a escrever o livro.

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