José é
um menino que acredita em Papai Noel, não há nada de mais nisso, mas o quadro muda quando ele
começa a brigar com a amiguinha dele, a Daiane, porque ela não
acredita em Papai Noel. O menino diz que ela não vai ganhar presente
no final do ano porque ela não acredita em Papai Noel, ao que ela
responde "Mas meu pai me disse que vai me comprar um presente!
Eu não preciso de Papai Noel pra me fazer feliz! Papai Noel não
existe?"
Como ela
ousa dizer que não precisa do Papai Noel para ser feliz? E pior,
como ousa ela ser feliz sem
para isso precisar acreditar que o Papai Noel vai lhe dar um presente
no final do ano? Isso é inconcebível! Por que ela ataca assim a
inocente crença que ele tem no Papai Noel dizendo na cara dura que
ele não existe!

Então
Maria chama José para brincar de casinha, ele é o pai. Daiane se
aproxima.
- Eu
também quero brincar! Eu vou ser a babá!
- Você
não pode.
- Mas por
que eu não posso?
Daiane
não pode ser a babá porque Daiane é uma menina que brinca com
carrinhos. José não quer que uma menina que brinque de carrinho
ensine suas filhas a também brincarem de carrinho, isso é errado,
Papai Noel não gosta.
- Mas eu
prometo que não vou brincar de carrinho na frente das meninas!
- Não,
eu não aceito! Porque quem brinca de carrinho se comporta como
menino! Eu não quero esse mau exemplo para minhas filhas! Ela vai
enfiar o carrinho dentro da roupa delas, não pode!
Imagine
que Papai Noel de fato exista e que ele saiba o que aconteceu. Ainda
mais, você é o Papai Noel. Ainda que você considere errado meninas
brincarem de carrinho, para quem você vai dar os presentes?
Quais
parecem ser os motivos de José para não aceitar a Daiane na
brincadeira? Será que ele tem uma preocupação legítima com as
filhas dele? Ou será que o buraco é mais embaixo? Não
parece ser esta uma típica birra infantil sem sentido? Não parece
ser pessoal?
Será que
não é inveja? Será que, no fundo, José não goste de brincar de
boneca? Ou será que ele não gosta da dúvida que ela tem da sua
existência porque isso o faz perceber que ele também, no fundo, não
acredita? Talvez, no fundo, José só acredita (ou diz que acredita)
no Papai Noel porque tem medo
de receber um pedaço de jiló no fim do ano. E talvez ele não
goste disso e sinta inveja da liberdade de Daiane em não ser
obrigada pelo medo a acreditar nisso. Talvez ele
só esteja extravazando o medo na forma de raiva.
Alguém
poderia apresentar uma objeção: mas não se trata de uma briga de
crianças, trata-se de uma briga de adultos. Associa-se
homossexualidade com pedofilia mas prova-se
o contrário. Então de repente o motivo muda, agora é porque
homossexuais vão dar um "mau exemplo" para seus filhos.
Não, eles não têm boca, não sabem conversar, não sabem tentar
entrar num acordo antes de tomar medidas drásticas.
Aí
começam a filosofar a respeito do "direito" do patrão de
demitir quem bem entende, pelo motivo que for, sem ter que
apresentá-lo a um juiz.
Briga de
adultos? Mas todos somos crianças. Os que odeiam as meninas que
brincam de carrinho têm medo da lei que proíbe demissões sem
motivo relevante ao trabalho porque sentem vergonha de ter que
apresentar o motivo de demissão a um juiz. O que eles querem não é
o direito de protegerem suas crianças de predatores sexuais ou de
ensinar aos seus filhos do que Papai Noel gosta ou não gosta. Em vez
disso, eles querem o direito de esconder de um juiz adulto a
motivação real para armar todo este circo. Ah, não, eles estão se
comportanto como crianças e no fundo sabem disso.
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