No primeiro turno da consulta para reitor na Unicamp, tínhamos quatro candidatos. Todos eles de direita, todos eles pretendem seguir em frente com o projeto de privatização e elitização do governo do PSDB, saudando a meritocracia, fechando a universidade para quem está do lado de fora, dificultando a integração social entre estudantes, seguindo em frente com a proibição de festas e com a segurança "patrimonial" (não, querida leitora, para a reitoria, o "patrimônio" da universidade não são as pessoas, é todo o resto). Nenhum deles agitou a bandeira da paridade e das eleições diretas para reitor, a da isonomia salarial já, o fim da terceirização ou cotas já. Ninguém criticou as condições subhumanas dos trabalhadores da unicamp, nem as punições do ano passado. Ainda assim, agora no segundo turno, existe uma mobilização bastante grande entre estudantes chamando voto crítico ao Tadeu. Há dois motivos.
Tadeu não puniu, Costa puniu
Primeiro, o outro candidato, Mário Saad da chapa "Unicamp no caminho certo", representa continuação do reitor anterior, o Fernando Costa, que suspendeu cinco estudantes por seis meses. enquanto o segundo, Tadeu Jorge, da "Unicamp de todos os saberes", não puniu estudantes durante sua gestão, embora tenha havido grandes manifestações em 2007.
Isso, entretanto, é desconsiderar todo o contexto. Em 2007, houve uma ocupação na USP que fez com que Serra voltasse atrás com seu decreto, ainda que de forma parcial. A moral conquistada com isso foi tão grande que mais de 50 reitorias pelo país inteiro foram ocupadas. Na ocupação da reitoria da Unicamp, Tadeu iniciou um processo de sindicância contra cinco estudantes, mas decidiu não puni-los. Óbvio, isso seria suicídio político.
Fernando Costa, por outro lado, mesmo contrário ao estatuto da Unicamp, esperou mais de um ano para aplicar as cinco punições com respeito a uma ocupação na Moradia no começo de 2011. Ou seja, esperou as condições políticas favoráveis às punições: os acontecimentos na USP e toda a repressão do governo do Estado.
É extremamente complicado reduzir a diferenciação entre duas candidaturas ao nível pessoal: um é bonzinho e o outro é mau.
Diferença de discurso
Saad tem um discurso aberto de extrema direita enquanto Tadeu tenta parecer mais democrático, aberto ao diálogo. Numa chamada ao voto crítico no Tadeu na segunda-feira, que foi em forma de debate, um dos professores na mesa disse: "Os dois candidatos nasceram iguais, mas sua história os diferenciou." Isso eu concordo, embora ele estava argumentando que Tadeu seria mais brando que Saad e nisso eu discordo.
A história de fato os diferenciou, eles não são candidatos iguais. Eles são bem diferentes no discurso. Tamanha é a diferença de discurso que Tadeu, de direita, é capaz de captar voto e apoio críticos da esquerda! Mas uma diferença de discurso não significa diferença de conteúdo! Por exemplo, Tadeu é a favor da democratização. Por outro lado, não é a favor da paridade nem das eleições diretas e diz: "Mas podemos discutir esse assunto". Discutir como? Seria algo do tipo "Você dá sua opinião e eu dou a palavra final?"
Ele diz que instaurará uma estatuinte universitária, mas como, quando, onde? Pelo tanto que ele falou sobre isso, a estatuinte universitária pode ser ele discutindo com o vice quais seriam as alterações no estatuto! Onde está o "demo" da democracia? Onde está o "di" no diálogo? Ele leva o discurso à esquerda, mas apenas até onde ele sabe que consegue voltar! Ele é um demagogo, um oportunista!
Voto nulo? Mas...
Diante desta situação, fica-me evidente que a melhor solução é a chamada ao voto nulo, pedindo que haja paridade e eleições diretas. O voto nulo, ao contrário da abstinência, demarca presença e insatisfação com todos os candidatos. Enquanto a abstinência é dizer "eu não ligo para as eleições", escrever "por eleições diretas e paritárias já" na célula significa dizer "eu não reconheço a legitimidade desta consulta, quero uma eleição democrática de verdade!"
Entretanto, gostaria de deixar aqui meu desapontamento aos professores de esquerda que estão chamando voto crítico no Tadeu. Eles disseram que não havia condições para criar uma candidatura de esquerda. O que isso quer dizer? Que tal candidatura não venceria? Nisso eu concordo, afinal, quem decide as eleições são os professores. Mas e daí?
Uma candidatura de esquerda estaria em uma posição privilegiada nos debates para perguntar ao Saad:
- A Unicamp está no caminho certo? E quanto às punições autoritárias e arbitrárias aos cinco estudantes no ano passado? Inclusive com um processo na ausência de um desses estudantes, que estava hospitalizado, desobedecendo a própria constituição, segundo a qual todos têm direito a participarem em sua própria defesa, seja em julgamentos judiciais ou extrajudiciais! Uma punição desumana, que levou o pobre estudante ao suicídio!
- A Unicamp está no caminho certo? E quanto às punições autoritárias e arbitrárias aos cinco estudantes no ano passado? Inclusive com um processo na ausência de um desses estudantes, que estava hospitalizado, desobedecendo a própria constituição, segundo a qual todos têm direito a participarem em sua própria defesa, seja em julgamentos judiciais ou extrajudiciais! Uma punição desumana, que levou o pobre estudante ao suicídio!
Também poderia perguntar ao Tadeu:
- Você disse que é a favor da democracia e do diálogo e também disse que pretende instaurar uma estatuinte universitária. E aí, você vai chamar assembleias pra isso? Ou melhor, um congresso? Vai convocar estudantes, funcionários e professores para discutir essa questão? E já que você disse que podemos conversar sobre paridade, que tal levarmos essa questão também para o congresso?
Tal candidato teria, sem dúvida, apoio do Coletivo Pra Fazer Diferente, da gestão do DCE, talvez até da Juventude às Ruas e de todo o movimento estudantil! Até mesmo dos que apoiam o Tadeu criticamente. Se as chapas para o DCE conseguiram obter, no total, os votos de 30% dos estudantes, e todas elas apoiassem uma candidatura de esquerda, venceríamos, sim, de lavada entre os estudantes.
Idem entre os funcionários, teria apoio do STU e até das chapas de oposição.
Mas, limitados pela visão de uma "candidatura possível", perdemos uma oportunidade histórica de constranger politicamente quem quer que fosse o vencedor dessas eleições por ter perdido entre estudantes e funcionários. Em vez de agitar as bandeiras do "voto no menos pior" ou do "voto por paridade", estaríamos agitando a bandeira da nossa concepção de universidade pública, gratuita e de qualidade, contra as opressões, democrática, aberta, inclusiva.
Se vamos vencer, partimos pra luta. Se vamos perder, partimos pra luta. E se não
podemos vencer devido à falta de democracia, mas podemos ter o apoio do povo,
então vamos à guerra!